Que Espécie de Homem Foi Jesus?
Jesus ‘não cometeu pecado e nem
dolo algum se achou em Sua boca.’ (1a Pedro, 2.22).
Para tanto, valeu-Se de alguma vantagem, ou condição, que não esteja disponível
a nós? Ao ser criado, Adão possuía uma natureza humana perfeita, com tendências
e inclinações ao bem; estava sob o governo da lei do amor.
Entretanto, após pecar, sua natureza tornou-se pecaminosa, com tendências e
inclinações ao mal: governada pela lei do egoísmo.
E Jesus? Qual natureza humana assumiu?
A do Adão antes da queda ou a do Adão depois da
queda? Viveu Ele uma vida perfeita em carne santa ou em‘semelhança
de carne pecaminosa’? Precisou Ele também ‘negar o Seu eu humano’,
ou estava Ele imune, isento das tendências ao mal hereditárias?
Como
sabemos, Jesus esvaziou-Se de Suas características divinas a fim de viver entre
nós. “Que, sendo em forma de Deus, não teve
por usurpação ser igual a Deus,” (Filipenses 2.6-7 ) Ele esvaziou-Se:
Mas
esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos
homens;
1. De Sua onipotência. Por um lado Jesus afirmou que “Por Mim mesmo, nada
posso fazer” (João 5.30), e por outro: “Para Deus tudo
é possível.” (Marcos 10.27). Logo, Ele pôs de lado Sua onipotência
divina a fim de viver entre nós. Renunciou temporariamente a ela. “Nosso
próprio Salvador, quando suportando a prova pela humanidade, reconheceu que, de
Si mesmo, nada podia fazer.”1
2. De Sua onisciência. Lemos em Lucas 2.52: “E crescia Jesus em
sabedoria ...”. Se Ele não tivesse Se esvaziado de Sua onisciência divina
nunca teria tido necessidade de crescer em sabedoria.
3. De Sua onipresença: Como homem estava limitado a estar em apenas um
lugar, por vez.
Suas qualificações e atributos como
Deus foram voluntária e temporariamentepostos de lado, a fim dEle
poder viver como um de nós. A Divindade permaneceu imanente2 na
natureza humana pecaminosa: ‘Deus conosco’!
Mas que tipo de homem foi Jesus? Qual foi sua natureza humana? A de Adão antesda
queda ou a de Adão depois da queda? Em outras palavras: Tinha
Ele, em Sua natureza humana, tendências hereditárias ao mal ou estava imune,
isento delas?
Eis como Jean R. Zurcher expõe o
assunto:3
“A posição de que Cristo tomou a decaída natureza
humana têm tido apenas uns poucos defensores através da história do
Cristianismo, e aqueles que a ensinavam foram freqüentemente considerados
hereges. Isso precisa ser prontamente reconhecido. Mas a verdade não
depende do número de seus seguidores.[‘A popularidade ou o número farão com que alguém se
torne inocente?’]4 Muitas verdades bíblicas essenciais têm sido
distorcidas através dos séculos, em razão de idéias preconcebidas ou conceitos
errôneos, resultando num ensino completamente estranho às Escrituras.
“O problema da natureza e destino da humanidade é o
primeiro exemplo. Ao aceitarem a idéia platônica da imortalidade da
alma, os pais da Igreja perpetuaram erros graves com respeito à morte,
ressurreição e vida eterna. Do mesmo modo, por desconsideração às informações
do Novo Testamento sobre o assunto da natureza humana de Cristo, foram
formuladas teorias arbitrárias que resultaram em doutrinas defeituosas.
“A Evidência Neotestamentária
“Para resolver o problema, é preciso iniciar com uma
cuidadosa análise das informações. Um problema bem entendido está meio
resolvido. Os dados escriturísticos claramente definidos sobre os quais a
Cristologia se apoia, podem ser sintetizados como um paradoxo: Cristo
participou da ‘semelhança de carne pecaminosa’, sem compartilhar de nenhum
pecado da humanidade.
“Essa dupla afirmação está colocada no coração do
prólogo do evangelho de João. Por um lado, o apóstolo declara: ‘O Verbo Se fez
carne’, e por outro afirma que o Verbo ‘habitou entre nós ... cheio de graça e
verdade’ (João 1.14). O paradoxo surge do fato de que, conquanto Se tenha
tornado humano, em estado de decaimento, Cristo, não obstante, viveu entre nós
sem pecado, em perfeita obediência à lei de Deus.
“João torna essa verdade a pedra de toque de
sua Cristologia: ‘Nisto conheceis o Espírito de Deus: todo espírito que
confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não
confessa a Jesus não é de Deus; mas é o espírito do anticristo ...’ (1a João
4.2 e 3).
“A palavra carne, em João, tem geralmente conotação
pejorativa. Seres humanos nascem de acordo com ‘a vontade da carne’ (João
1.13), e julgam ‘segundo a carne’ (João 8.15). E João conclui: ‘Porque tudo o
que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a
soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo.’ O próprio Jesus sempre opôs
sistematicamente ‘carne’ e ‘Espírito’. ‘O que é nascido da carne é carne, e o
que é nascido do Espírito é espírito.’ (João 3.6) ‘O Espírito é o que vivifica,
a carne para nada aproveita.’ (João 6.63)
“Paulo também enfatiza, em suas epístolas, a
oposição entre a carne e o Espírito na pessoa de Cristo. Na introdução de sua
epístola aos Romanos, ele define a dupla natureza de Cristo nestes termos: ‘...
nasceu da semente de Davi segundo a carne; e que com poder foi declarado Filho
de Deus, segundo o espírito de santidade.’ (Rom. 1.3 e 4). Então, apelando à
grandeza do ‘mistério da piedade’, Paulo declara uma vez mais os fundamentos da
Cristologia: ‘Aquele que Se manifestou em carne, foi justificado em
espírito ...’ (1a Tim. 3.16)
“Não satisfeito em afirmar que Cristo é, ao mesmo
tempo, carne e Espírito – isto é, verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus
– Paulo diz que Deus enviou ‘... Seu próprio Filho em semelhança da
carne do pecado’, assim ‘na carne condenou o pecado’ (Rom. 8.3). Qualquer
que seja o significado dado à palavra ‘semelhança’ [homoioma], isso não
significa que a carne de Cristo seria diferente daquela da humanidade em Seu
nascimento. Jesus, todavia, não era
como Adão antes da queda, pois Deus não criou Adão ‘em semelhança da
carne pecaminosa’.
“Em sua epístola aos Filipenses, Paulo destaca o
paradoxo existente entre a realidade da condição humana e a perfeição da
obediência de Jesus até o fim de Sua vida. De um lado, o apóstolo acentua a
plena e total participação de Cristo na natureza humana: ‘Ele tomou ‘a forma de
servo’ (literalmente escravo); Ele Se tornou ‘semelhante aos homens’ e foi
‘obediente até à morte, e morte de cruz’ (Fil. 2.7 e 8). Em outras palavras,
embora ‘nascido de mulher, nascido sob a lei’ como todos os seres humanos, por
Sua perfeita obediência à Lei de Deus, Cristo não apenas ‘condenou o pecado na
carne’ (Rom. 8.3), mas tornou-Se o Redentor daqueles que estão ‘sob a lei’
(Gál. 4.5). Com efeito, escreveu Paulo: ‘Porque a lei do Espírito da vida, em
Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.’ (Rom. 8.2).
“A epístola aos Hebreus realça esse duplo aspecto da
pessoa e obra de Cristo. ‘Pois, na verdade, não presta auxílio aos anjos, mas
sim à descendência de Abraão. Pelo que convinha que em tudo fosse feito
semelhante a Seus irmãos ...’ (Heb. 2.16 e 17). Uma vez que os irmãos ‘são
participantes comuns de carne e sangue, também Ele, semelhantemente, participou
das mesmas coisas’ (verso 14). Portanto, Ele ‘em tudo foi tentado, mas sem
pecado’ (Heb. 4.15). Essa foi a condição necessária para o cumprimento de Sua
missão de servir como ‘um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel nas coisas
concernentes a Deus, a fim de fazer propiciação pelos pecados do povo. Porque
naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são
tentados’ (Hebreus 2.17-18).
“Esses
são os dados bíblicos fundamentais da Cristologia. Ninguém tem o direito de
debilitar ou alterar essas informações com argumentos faltos de
idoneidade bíblica.” 5
‘Homoioma’ [homoiomati] – o que
significa realmente?
Segundo Paulo, Jesus veio ‘em semelhança [homoioma] de
carne pecaminosa’(Romanos 8.3). “A intenção não
é, de modo algum, atrair a atenção para o fato de que, conquanto o Filho de
Deus tenha verdadeiramente assumido sarx hamartias [carne
pecaminosa], Ele nunca Se tornou sarx hamartias e nada mais, nem mesmo sarx
hamartias habitada pelo Espírito Santo."
"Entendemos ... que o pensamento
de Paulo – concernente a seu uso de homoioma[semelhança] aqui
–, seja de que o Filho de Deus assumiu idêntica natureza decaída à
nossa, mas que, em Seu caso, essa natureza humana decaída nunca foi
integral nEle – Ele nunca cessou de ser o eterno Filho de Deus." 6
Por qual razão ‘essa natureza
humana decaída nunca foi integral nEle’? Porque Ele sempre teve também Sua
natureza divina, fato que nunca acontece ao ser gerado qualquer outro bebê.
“Ele também travou cruentas batalhas com o eu e as
tendências potencialmente hereditárias, mas nunca permitiu que uma inclinação
se tornasse pecaminosa (ver Tiago 1.14 e 15). Cristo Se mantinha dizendo
'não!', enquanto todos os outros seres humanos diziam 'sim!'” 7
Ele não permitiu que
uma inclinação ao mal gerasse pecado.
Compreendamos bem: “Certamente
Ele era diferente de nós, porque nós somos pecadores caídos e
Ele era sem pecado. O que era ‘diferente’, entre nós [e Ele]8, era o Seu caráter, a Sua justiça. O que é ‘semelhante’,
entre nós [e Ele]9, é a Sua natureza que Ele‘tomou’, Sua
hereditariedade genética e a nossa.”10
“O apóstolo [Paulo,
em Rom. 8.3] limitou a semelhança à
carne na qual habitava a ‘lei do pecado’, e onde ‘a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida’(1a João 2.16) dominavam.
“De acordo com Tiago 1.15, a concupiscência [desejos,
tendências, inclinações, pensamentos maus]11é a mãe do pecado, e não pecado em si mesma, assim
como o pecado é pai da morte e não a própria morte. As concupiscências são
tentações às quais todos os seres humanos estão sujeitos, e que o
próprio Jesus teve de enfrentar, uma vez que Ele foi ‘tentado em todos os
pontos, como nós’ (Heb. 4.15). Mas, diferentemente do que acontece conosco,
Cristo nunca permitiu que as más tendências, embora hereditárias e potencialmente
pecaminosas, se tornassem pecado.”12
Em nossa natureza humana, nós temos duas categorias
de tendências, inclinações ao mal:
1. as hereditárias: que são
características da nossa natureza humana que recebemos ao sermos gerados.
2. as cultivadas: que passamos a
possuir a partir do instante em que cedemos ao mal, pecamos.
Já Jesus, em razão dEle nunca ter cedido ao
mal, possuiu apenas as tendências, as inclinações ao mal HEREDITÁRIAS. Não
existiu nEle nenhuma sombra de tendências cultivadas ao mal,
pois Ele nunca cedeu ao mal, nunca pecou, nunca corrompeu Sua natureza humana:
nunca pôs Sua ‘máquina de pecar em funcionamento’. Ele sempre falou
NÃO às Suas tendências naturais ao mal, as quais Ele odiou como nenhum outro
ser humano jamais o fez. Se o crente ‘chora’ (Mateus
5.4) também devido às suas tendências ao mal que permanecerão com ele até a
morte [ou até o retorno de Cristo], quanto mais Jesus!
Em Sua natureza humana também existia a
mesma atração natural, hereditária ao mal, tal qual existe em nós desde o
nascimento, mas não houve jamais outro ser humano que odiasse tanto esta
atração ao mal como Jesus odiou a Sua: “Amas a justiça e odeias
a iniqüidade; por isso Deus, o Teu Deus, Te ungiu com o óleo de alegriacomo
a nenhum dos Teus companheiros.” (Salmo 45.7).
"Aqui a provação de Cristo foi
muito maior do que a de Adão e Eva, pois Ele assumiu nossa natureza, decaída mas não
corrompida, e que não se perverteria a menos que Ele aceitasse as palavras
de Satanás em lugar das palavras de Deus."13
Homoioma – identidade,
similitude, semelhança (Romanos 8.3-4) – vem dehomós [em grego].
Uma folha não é exatamente igual à outra, ainda que ambas sejam da mesma
árvore. Não são exatamente iguais, são semelhantes.
Mesmo um irmão de sangue não herda de
seus pais uma natureza humana pecaminosa igual a dos outros
demais irmãos, tanto que um pode receber uma acentuada tendência a ser
colérico, outro a ser sangüíneo, ou fleumático ou melancólico. Assim, todos nós
recebemos naturezas humanas pecaminosassemelhantes, mas não
exatamente iguais.
Eis outros exemplos do significado do
radical ‘homós’:
Homossexual: ... mesmo sexo;
Homocentro: centro comum de várias
circunferências;
Homocíclico: diz-se de um composto em cuja
molécula existe um ciclo constituído por átomos idênticos;
Homofilo: diz-se da planta de folhas ou
folíolos semelhantes;
Homogêneo: cujas partes todas são da mesma
natureza;
Homogenia: semelhança de partes, devida à
origem comum;
Homógrafo: que tem a mesma grafia;
Homopétalo: que tem pétalas semelhantes;
Homotérmico: que tem a mesma temperatura.
Como se comprova, o radical ‘homós’ está
concretamente relacionado com igualdade, identidade, cópia, similitude,
uniformidade. Assim sendo, por qual motivo ‘homós’, na
palavra Homoioma, em Romanos 8.3-4, deveria significar diferença,
dissemelhança ou aparência, como se pretende no pré-lapsarianismo?
Mais Fundamentos Bíblicos
·
Rom 1.3: “...
com respeito a Seu Filho, o Qual, segundo a carne, veio da descendência de
Davi.” Toda a descendência de Davi possuiu a mesma carne
com tendências ao mal, inclusive Jesus. “Adão foi tentado pelo inimigo
e caiu. Não foi um pecado enraizado que o fez ceder, pois Deus o fez puro e
reto e à Sua própria imagem. Ele era tão irrepreensível quanto os anjos perante
o trono. Não havia nele princípios corruptos nem tendências para o mal. Mas
quando Cristo veio para conhecer as tentações de Satanás, Ele carregou
a ‘semelhança de carne pecaminosa’.”14
·
Levítico 25.47-49: “Quando o estrangeiro, ou peregrino, que está
contigo, se tornar rico, e teu irmão junto dele empobrecer, e vender-se ao
estrangeiro ou peregrino que está contigo, ou a alguém da família do
estrangeiro, depois de haver-se vendido, haverá ainda resgate para ele: um de
seus irmãos poderá resgatá-lo ...”`; Rute 2.20: “... Disse-lhe mais Noemi: Esse homem é nosso parente chegado, e um dentre os nossos resgatadores.”; Rute
3.12: “Ora é muito verdade que eu sou resgatador; mas
ainda outro resgatador há mais
chegado do que eu.” O direito de ser resgatador daquele que havia caído
em desgraça era, primordialmente, umprivilégio do parente mais próximo,
do mais chegado.
O ‘parente resgatador’ é
um dos símbolos de Cristo. Para ser nosso Resgatador do pecado, Cristo
necessitava ser nosso parente próximo, e para tanto veio em ‘semelhança
de carne pecaminosa.’ (Rom. 8.3), idêntica à nossa. Ele não poderia
exercer o direito de ser nosso Resgatador, se tivesse vindo ‘em carne
santa’, pois, neste caso não teria sido o nosso ‘parente próximo’. “Sentimos
a necessidade de apresentar a Cristo, não como um Salvador que estava
longe [como um Adão antes da
queda]15, mas perto, à mão [como um Adão depois da
queda].”16
·
Daniel 8.17: “Veio, pois, perto de onde eu [Daniel] estava;
e vindo ele fiquei amedrontado, e caí com o rosto em terra. Mas ele me disse:
Entende, filho do homem, pois esta visão se refere ao tempo do fim.” Daniel 7.13: “Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e
eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do homem, e dirigiu-Se ao Ancião de dias, e O fizeram
chegar até Ele.” Lucas 19.10: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o
perdido.” Daniel, um homem com natureza
humana com tendências hereditárias ao mal, é chamado ‘filho do
homem’. Jesus disse de Si mesmo: ‘Porque o Filho do
homem ...’, termo que ocorre 86 vezes nos evangelhos.
·
Lucas 1.35: “Respondeu-lhe
o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá
com a Sua sombra; por isso também o Ente santo que há de nascer, será chamado
filho de Deus.” Nenhum outro ser humano possuiu duas naturezas.
Jesus é ‘monogenes’ (São João 1.18), isto é: único em Sua
classe, gênero, posição, espécie, status em todo o Universo.
Na Bíblia, sempre que a natureza divina
une-se à natureza humana tendente ao mal, o produto é um ente santo.
Heb. 13.24; Efésios 1.1; Filip. 4.22; 2a Cor. 1.1.
Divindade + humanidade tendente ao mal
= Ente santo.
·
João 12.24: “Se
o grão de
trigo [Jesus], caindo
na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto[cristãos]”. Se
o ‘fruto’ [cristão] é composto da natureza humana com
tendências ao mal + a natureza divina, então, idênticamente, ocorreu com o
Grão original.
“Teria sido uma quase infinita humilhação para o
Filho de Deus, revestir-Se da natureza humana mesmo quando Adão
permanecia em seu estado de inocência, no
Éden. Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido
enfraquecida por quatro mil anos de pecado. Como qualquer filho de Adão,
aceitou os resultados da operação da grande lei da hereditariedade.
O que estes resultados foram, manifesta-se na história
de Seus ancestrais terrestres. Veio com essa hereditariedade para
partilhar de nossas dores e tentações, e dar-nos o exemplo de uma vida
impecável.”17
Este texto é, deveras, muito claro:
teria sido ‘uma quase infinita humilhação’, para Jesus ter vindo
com a carne humana de Adão ANTES da
queda, mas Ele
veio com a carne de Adão DEPOIS da queda,
sujeitando-se à grande lei da hereditariedade.
“Somente pela Sua própria sujeição à lei da
hereditariedade podia Ele alcançar a medida inteira e verdadeira do
pecado. Sem isto não podiam ser postos sobre Ele os nossos
pecados realmente cometidos, com o castigo e a condenação pertencentes
a eles.”18
·
Apocalipse 3.21: “Ao
vencedor, dar-lhe-ei sentar-se Comigo no Meu trono, assim como também Eu venci, e Me sentei com Meu Pai no Seu trono.” Quando Cristo vem viver Sua vida perfeita em nós,novamente une-se
uma natureza humana tendente ao mal — a nossa — com uma
natureza divina — a dEle. Assim o povo de Deus vencerá como Jesus
venceu! Se Ele tivesse feito uso de algum poder indisponível a nós, é óbvio
que Ele nunca teria pronunciado aquelas palavras. Então, como herança de nosso
pai – Adão – Ele recebeu mesmo uma natureza humana precisamente igual à nossa,
e com as mesmas tendências ao mal, como esta com a qual nascemos. Assim, como
Ele venceu: todo ser humano também pode vencer! Não há desculpas para continuar
pecando.
“Cristo
... não transgrediu a lei de Deus em nenhum detalhe. Mas que isso, Ele
eliminou qualquer desculpa do homem caído que pudesse alegar alguma
razão para não guardar a lei de Deus.”19
“Quando Cristo assumiu nossa natureza humana, Ele
foi lá em Seu ego divino; mas Ele não manifestou nada de Seu ego divino naquele
lugar ... Ele foi nossos egos pecaminosos na carne, e aqui onde todas estas
tendências para pecar sendo incitadas na Sua carne para conseguir que Ele
consentisse em pecar. Mas Ele não Se
manteve sem pecar por Suas próprias forças. Fazer assim teria sido Ele mesmo
manifestando-Se contra o poder de Satanás, e isto teria destruído o plano de
salvação, mesmo se Ele não tivesse pecado.”20
·
João 1.14: “E
o Verbo se fez carne, e habitou entre nós ...” Quando ‘o Verbo Se fez carne’, havia
apenas uma espécie de carne — a caída, tendente ao mal como a que temos, a qual
nos tenta por dentro. Jesus ‘tornou-Se carne, exatamente como nós somos’.21
“As palavras de Cristo encorajam os pais a trazer
suas crianças a Jesus. Elas podem ser geniosas, e possuir paixões como aquelas
da humanidade, mas isto não nos deveria intimidar de as trazer a Cristo. Ele abençoou as crianças que possuíam paixões iguais
às Suas próprias.” 22
·
Hebreus 2.14-17: “Visto, pois, que o filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também Ele,igualmente, participou,
para que, por Sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o
diabo, e livrasse a todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à
escravidão por toda a vida. Pois Ele, evidentemente, não socorre a anjos, mas
socorre a descendência de Abraão. Por isso mesmo convinha que, em
todas as cousas, Se tornassesemelhante
aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas cousas
referentes a Deus, e para fazer propiciação pelos pecados do povo.”
Até que ponto partilhou Jesus de nossa humanidade
comum?
“Em
Sua humanidade, Cristo participou de nossa natureza pecaminosa, caída. Senão,
não seria então ‘em tudo semelhante aos irmãos’, não seria como nós, em tudo
... tentado, não venceria como temos de vencer, e não seria, portanto, o completo
e perfeito Salvador que o homem necessita e deve ter para ser salvo. A idéia de
que Cristo nasceu de uma mãe imaculada ou isenta de pecado, sem herdar
tendências para pecar, e por isso não pecou, põe-nO à parte do domínio de um
mundo caído, e do próprio lugar onde é necessário o auxílio.
“De
Sua parte humana, Cristo herdou exatamente o que herda todo filho de Adão – uma
natureza pecaminosa. Do lado divino, desde a própria concepção, foi gerado e
nascido do Espírito. E tudo isso foi feito para colocar a humanidade num plano
vantajoso, e demonstrar que da mesma maneira todo que é ‘nascido do Espírito’
pode obter idênticas vitórias sobre o pecado, mesmo em sua pecaminosa carne.
Assim cada um tem de vencer como Cristo venceu. Apoc. 3.21. Sem este nascimento,
não pode haver vitória sobre a tentação, nem salvação do pecado. S. João
3.3-7.” 23
·
Hebreus 2.18: “Pois naquilo que Ele mesmo sofreu [suportou],
tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os
que são tentados.” Ele pode nos socorrer ‘naquilo em que
Ele mesmo’ foi tentado. Se Ele não tivesse sido tentado ‘por
dentro’, tal qual nós o somos, não nos poderia agora socorrer
nesta categoria de tentações.
“Se tivéssemos, em certo sentido, um mais probante
conflito do que teve Cristo, então Ele não estaria habilitado a nos socorrer.”24
“Quando
Ele era tentado, sentia os desejos e inclinações da carne, precisamente como os
sentimos quando somos tentados. Pois ‘cada um é tentado pela sua própria
cobiça, quando esta o atrai e seduz’. Tiago 1.14. Jesus experimentou isso sem
pecado, porque ser tentado não é pecado. É somente quando a iniqüidade é
concebida, quando o desejo é acariciado, quando a inclinação é sancionada, -
somente então é que se produz o pecado.”25
“Jesus
nunca, mesmo em pensamento, acariciou um desejo, ou sancionou uma inclinação da
carne. Assim, em tal carne como a nossa, Ele foi tentado em todos os pontos
como nós somos, contudo sem um traço de pecado, pelo poder divino que havia
recebido mediante fé em Deus, Ele, em nossa carne, sufocou integralmente toda
inclinação dessa carne, e efetivamente matou na raiz todo desejo da carne.” 26
Entretanto há quem sustente que Jesus não
foi – e nem podia ter sido – tentado com as tentações
do homem moderno! Dizem: “Como pôde Ele, que viveu há 2000 anos
passados, ser tentado nas coisas existentes apenas hoje em dia?” Se
Jesus não tivesse sido tentado como e nas coisas que o homem do Século XXI é
tentado, neste caso Ele não poderia nos socorrer atualmente, pois Ele nos pode
socorrer apenas ‘naquilo que Ele mesmo
sofreu [suportou]’.
Eis um destes arrazoados: “...
era impossível Jesus suportar cada tentação que sobrevem aos
diferentes tipos de pessoas. Se Ele, por exemplo, era homem, solteiro e pobre
como poderia ‘ser tocado pelos sentimentos’ das mulheres, dos
casados e dos ricos? Em segundo lugar, além de impossível, seria inútil que
Jesus experimentasse cada tentação que cada pessoa enfrenta.”27
É de admirar que, segundo o arrazoado
supra, teria sido não apenasimpossível – mas também inútil – Jesus
ter sido tentado como a Bíblia afirma que foi! Queira Deus que a seguinte
afirmativa possa nos ajudar nesta controvérsia:
“É um mistério, que permanece inexplicável aos
mortais, que Cristo pôde ser tentado em todos os pontos como nós somos, e ainda
estar sem pecado.”28
·
Hebreus 7.26: “Com
efeito nos convinha um Sumo Sacerdote, assim como Este, santo, inculpável, sem mácula,
separado dos pecadores, e feito mais alto do que os céus.” Apenas para os que adotam a doutrina da ‘culpa
original’ é que este texto poderia apoiar o pré-lapsarianismo.
Considere, entretanto, que Jesus foi sem mácula. E
Apocalipse 14.5: [“e não se achou mentira na sua boca; não têm mácula.”]
nos apresenta os 144.000 também ‘sem mácula’, e ainda tendo
natureza humana com tendências hereditárias ao mal. É óbvio que ambos os textos
referem-se ao caráter e não à hereditariedade.
·
João 14.30: ‘Aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em Mim.’ “Satanás
encontra nos corações humanos algum ponto de apoio; é acalentado algum
desejo pecaminoso por meio do qual suas tentações impõem o seu poder.” Entretanto “Cristo foi tentado em todos os
pontos, à nossa semelhança, mas sem pecado. Ele disse: ‘Aí vem o príncipe do
mundo; e ele nada tem em Mim.’ Que significa isto? Significa que o príncipe do
mal não pôde encontrar em Cristo uma posição vantajosa para sua tentação; e pode
suceder a mesma coisaconosco.”29
Amigo,
como ‘pode suceder a mesma coisa conosco’, então não
deveríamos NUNCA tentar valer-nos destas palavras de Jesus para apoiar o
pré-lapsarianismo! Ou, por ventura, a ‘carne santa’ está
disponível a nós, nesta vida?!
·
Hebreus 4.15: “Porque
não temos Sumo Sacerdote que não possa compadecer-Se das nossas fraquezas,
antes foi Ele tentado em todas as cousas, à nossa semelhança, mas sem pecado.” Em todos os pontos foi tentado como nós o somos. E
nós somos tentados também ‘por dentro’. “Tomando a natureza
humana, habilitou-Se Cristo a compreender as provas e dores do homem, e todas
as tentações com que é assediado. Os anjos não familiarizados com o pecado não
se podiam compadecer do ser humano nas provações que lhe são peculiares. Cristo
condescendeu em tomar a natureza humana, e ‘como nós, em tudo foi tentado’(Heb.
4.25), a fim de poder saber como socorrer a todos os que fossem tentados.’
(Heb. 2.18).”30Obviamente, se Ele tivesse tomado sobre Si a ‘carne
santa’ de Adão antes da queda, esta condição em nada Lhe valeria a fim
de provar as tentações do homem nascido com tendências hereditárias ao mal.
“Tentações e provas nos virão a todos, mas não
precisamos nunca ser derrotados pelo inimigo. Nosso Salvador venceu em nosso
favor. Satanás não é invencível. ... Cristo foi tentado a
fim de saber como ajudar a toda pessoa que houvesse de ser tentada
posteriormente [Logo, se Ele não
tivesse sido tentado como nós, não saberia como nos ajudar. E, para ser tentado
como nós, obviamente necessitava estar nas condições em que estamos: em carne
tendente ao mal, como a de Adão, depois da queda.]31. A tentação não é pecado; este consiste
em ceder. Para a pessoa que confia em Jesus, tentação significa vitória e
maior resistência.”32
·
Mateus 1.21-23: “...
e Ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco). ‘Deus conosco’, que temos natureza humana
tendente ao mal e não Deus com ele, isto é: com Adão antes da
queda, o qual tinha ‘carne santa’.
·
Gênesis 3.15: “Porei
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu Descendente.
Este te ferirá a cabeça, e tu Lhe ferirás o calcanhar.” Jesus devia ser a ‘semente’ de
uma mulher caída, não de uma mãe que não tivesse, em sua natureza humana, as
tendências ao mal hereditárias.
Sabemos que, por natureza, o homem é
amigo do pecado e inimigo da justiça. Ao homem se converter, é Deus Quem põe
nele a inimizade contra o pecado, o mal. Assim dizemos que ‘a inimizade
posta entre a semente da serpente[diabo] e a semente da mulher [nós] foi sobrenatural.
Com Cristo a inimizade era em certo sentido natural; em outro sentido
foi sobrenatural, visto combinarem-se humanidade e
divindade.’33
Se Ele
tivesse tido ‘carne santa’, obviamente a inimizade contra o mal
teria sido natural tanto quanto a Sua divindade como
quanto à Sua humanidade! Entretanto, por Deus ter enviado Seu Filho em ‘semelhança
de carne pecaminosa’(Rom 8.3), no ego humano de Cristo, a inimizade contra
o pecado foisobrenatural; Sua natureza humana foi decaída
e egoísta, exatamente como a nossa; termos uma natureza humana egoísta
significa termos uma natureza humana em que existe a lei do
egoísmo, o que não é sinônimo de sermos egoístas.Ser
egoísta tem a ver com o caráter, significa ter cedido àquela lei do egoísmo.
Certamente a lei do egoísmo permanecerá em nossa natureza
humana até o dia da volta de Jesus, enquanto que, simultaneamente, todo egoísmo
pode ser banido de nosso caráter.
Jesus também tinha em Si a mesma natureza
humana que nós temos, isto é, a‘máquina de pecar’, mas nunca a
pôs em funcionamento, embora fosse tentado tanto por dentro como por
fora como nós o somos. E, para não consentir com as tendências ao mal
hereditárias, que Ele odiava, oriundas de Sua natureza humana: “Sua
vida foi uma de negar o eu ...”34
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Gênesis 12.3: Abraão: “... em ti serão benditas todas as famílias da
terra.” ‘... em ti —
em tua descendência com natureza tendente ao mal — serão benditas todas
as famílias da terra.’ “A natureza de Deus, cuja lei havia sido
transgredida, e a natureza de Adão, otransgressor,
encontraram-se em Jesus, Filho de Deus e Filho do homem.”35
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2a Coríntios
5.21: “Aquele que não conheceu pecado, Ele O fez pecado
por nós; ...” “... O fez pecado por nós ...” e não apenas: “O considerou pecado.”
“Cristo tornou-Se uma mesma carne conosco, a fim de nos
podermos tornar um espírito com Ele.”36
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Romanos 8.3: “Porquanto
o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus
enviando o Seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao
pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado.” Quando Jesus veio, havia apenas uma espécie de
carne na Terra: a tendente ao mal. Ele condenou o pecado em ‘semelhança
de carne pecaminosa’ por não ter, em nenhum instante, cedido às
hereditárias más tendências dela.“Conquanto sentisse Ele toda a força da
paixão humana, jamais cedeu à tentação.”37
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Lucas 9.23: “Dizia
a todos: Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua
cruz e siga-Me.”“Siga-Me” = faça o que eu estou
fazendo! Se nós O seguimos em negar o ‘eu’, então Ele também devia
estar praticando o ‘negar o eu’. De fato, temos que ‘Sua [de Cristo] vida
foi uma de negar o eu,
na qual a verdade, em todas as suas [dela] nobres qualidades, foi expressa.’38
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João 5.30: “Eu
nada posso fazer de Mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O Meu juízo e
justo porque não procuro a Minha própria vontade, e, sim, a dAquele que Me
enviou.” Ele tinha um ‘eu’ [vontade],
mas um‘eu’ do qual Ele disse: ‘Não procuro a Minha própria
vontade’. Para tanto negava Seu ‘eu’ humano, como nós
devemos fazê-lo.
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João 6.38: “Porque
Eu desci do céu não para fazer a Minha própria vontade; e, sim, a vontade
dAquele que Me enviou.” Evidencia-se a
diferença de vontades. Jesus, para fazer a vontade do Pai, negava Sua própria
vontade humana. Então Ele tinha uma luta interna, como nós a temos.
“A vontade humana de Cristo não O teria conduzido
tão rapidamente ao deserto da tentação,
para ser tentado pelo diabo. Ela não O levaria a suportar humilhação, escárnio,
vergonha, sofrimento e morte. Sua natureza humana recuava de todas essas coisas,
tão decididamente quanto a nossa o faz ... Cristo vivia para fazer o
quê? A vontade de Seu Pai celestial."39
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Mateus 26.39: “Adiantando-Se
um pouco, prostou-Se sobre o Seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai: Se possível,
passe de Mim este cálice! Todavia, não seja como Eu quero, e, sim, como Tu
queres.” Evidenciam-se vontades diferentes.
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Salmo 22.1: “Deus
Meu, Deus Meu, porque Me desamparaste?” Uma pessoa com natureza não-caída, não-pecaminosa,
não poderia proferir um grito tal. “Por isso que o homem caído não
podia vencer a Satanás com sua força humana, veio Cristo das cortes reais do
Céu para ajudá-lo com Sua força humana e divina combinadas. Cristo sabia que
Adão, no Éden, com suas superiores vantagens, poderia ter resistido às
tentações de Satanás, vencendo-o. Sabia também que não era possível ao
homem, fora do Éden, separado, desde a queda, da luz e do amor de Deus,
resistir em suas próprias forças às tentações de Satanás. A fim de conceder
esperança ao homem e salvá-lo da ruína completa, humilhou-Se, tomando a
natureza do homem para que, com Seu poder divino combinado com o
humano, pudesse Ele alcançar o homem onde se acha. Obtém Ele para
os caídos filhos e filhas de Adão aquela força que é impossível obterem eles
por si mesmos, a fim de que em Seu nome possam vencer as tentações de Satanás.”40
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Isaías 9.6: “Porque um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu
...” Nasceu-nos um
Menino. De nós — a caída, pecaminosa raça humana — nos nasceu um Menino ... “Argumentação
enganosa foi uma tentação a Cristo. Sua humanidade a tornou uma tentação para
Ele. ... Ele andou pela fé, como nós temos que andar pela fé.... Alguém
suportou todas estas tentações antes de nós ... As mais fortes tentações ... do
cristão virão de dentro. Cristo [foi] tentado como nós somos.”41
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João 2.24-25: “E
não precisava de que alguém Lhe desse testemunho a respeito do homem, porque Ele mesmo sabia o que era a natureza humana.” Por que não precisava? Porque Ele mesmo tinha
uma, e sabia quão pouco confiável era ela.
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1a Coríntios
2.16 up: “... Nós, porém, temos a mente de Cristo.” Todo ser humano nasce com tendências ao mal
hereditárias. Nós, além de carne tendente ao mal – sujeita à lei do egoísmo –
passamos a ter também mente pecaminosa, a partir do instante em que
cedemos às nossas tendências ao mal. A carne de Cristo foi carne humana, com
hereditárias tendências ao mal, mas Sua mente não, pois Ele sempre escolheu o
bem, nunca o mal. Se, além de carne tendente ao mal, Ele tivesse tido também
uma mente pecaminosa, como a Bíblia nos estimularia a termos a ‘mente
de Cristo’? Já a teríamos de antemão!
Quanto à hereditariedade humana
Jesus foi semelhante [homoioma] a nós. Quanto ao caráter – tendências
cultivadas ao mal – Ele foi diferente, pois Ele nunca cedeu às
Suas más tendências hereditárias e nós, ao contrário, cedemos a
elas. A boa notícia é a admoestação de Paulo em Rom. 12.2: ‘transformai-vos
pela renovação da vossa mente’, isto é: podemos vir a ter a ‘mente
de Cristo’. Uma mente que escolhe sempre o bem e rejeita com nojo o mal.
“Quando
estamos unidos a Cristo, temos a mente de Cristo. A pureza e o amor
resplandecem no caráter, a mansidão e a verdade controlam a vida. ... Ao
tornar-se umhomem de obediência a Deus, tem ele a mente de
Cristo, e a vontade de Deus torna-se a sua vontade.”42
Ter a ‘mente de Cristo’ não
significa ter ‘carne santa’, pois Jesus tinha mentesanta ‘em
semelhança de carne pecaminosa’.
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1a João
4.1-6: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito [ensino], antes,
provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm
saído pelo mundo fora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em
carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus;
pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem, e
presentemente já está no mundo. ...” O
anticristo ensina que Jesus não veio em carne. Qual carne?
Considere Romanos 8.3: “... em semelhança de carne pecaminosa.” Ensinar
que Jesus veio em 'carne santa', isto é: com a natureza do Adão antes da
queda, equivale a negar que veio em 'semelhança de carne pecaminosa'.
Precisamente‘Este é o espírito [ensino] do anticristo’ (1a João
4.3). Trata-se da linha divisória entre uma corrente de pensamento que conduz à
lealdade a Deus e outra que insinua ser Ele um ser injusto, cruel e arbitrário.
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2a João
7-11: “Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo
fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne: assim é o enganador e o anticristo. ...” Por que é grave afirmar que Jesus não veio ‘em
semelhança de carne pecaminosa’? “Isto teria destruído o plano de
salvação, mesmo se Ele não tivesse pecado.”43